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quinta-feira, 11 de março de 2010

Fernando Pessoa e a Maçonaria


“Não sou maçom, nem pertenço a
Qualquer outra ordem semelhante ou diferente.
Não sou, porem, antimaçom, pois o que sei
do assunto me leva a ter uma
idéia absolutamente favorável
da Ordem Maçónica”

As relações de Fernando Pessoa com a Maçonaria, se não foram ideais, em muito se aproximaram disto. É notório o seu interesse, quando na ocasião da defesa que faz, em “Maçonaria”, inserida nas “Ideias Filosóficas”, escrita quando um deputado português propõe a perseguição e sanções junto à Assembleia Nacional, de todos os membros maçons:

“Posso hoje dizer, sem que use de excesso de vaidade, que pouca gente haverá, fora da Maçonaria, aqui ou em qualquer outra parte, que tanto tenha conseguido entranhar-se na alma daquela vida, e portanto, e derivadamente, nos seus aspectos por assim dizer externos”.


Por ser a Maçonaria uma associação não-religiosa, e portanto de carácter não-doutrinário, visando apenas ao aspecto da fraternidade e ao aprofundamento em estudos filosóficos, ela encontrará em Fernando Pessoa um admirador que a somará aos jogos metafóricos de sua obra, conforme podemos verificar no poema “Do Vale à Montanha”:

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por casas, por prados.

Por quinta e por fonte,

Caminhais aliados.

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por penhascos pretos,

Atrás e defronte,

Caminhais secretos.

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por plainos desertos

Sem ter horizontes,

Caminhais libertos.

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por ínvios caminhos,

Por rios sem ponte,

Caminhais sozinhos.

Do vale à montanha,

Da montanha ao monte,

Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge,

Por quanto é sem fim,

Sem ninguém que o conte,

Caminhais em mim.

24/10/1932

Movimento interior, de percurso iniciático, de algum processo que se está dando na alma do poeta, e de que o vale e a montanha, o cavaleiro e o cavalo são fontes de referência.

Vale: usa-se para definir o lugar de instituições maçónicas, é um acto de humildade e verdade que a Ordem seguiu para indicação superior. É a definição da baixa qualidade da iniciação que ela ministra, em relação à alta iniciação, nas altas Ordens, referente sempre a uma montanha.

Movimento vale-montanha: É um movimento iniciático com uma simbólica específica, maçónica de gradação de “estados”.

Busca: é a ‘Palavra Perdida”.

Cavaleiros: são adeptos, os iniciados que procuram a "Palavra Pedida".

[Adaptado de um texto publicado em partes nas versões impressas de Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte, nº 154, 155 e 156, janeiro a março de 2009]

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©2007 '' Por Elke di Barros